Consumidores e empresas devem postergar recuperação de crédito

By 10 de outubro de 2017Notícias

Pagamentos de dívidas irão retomar apenas daqui um ano, com impactos positivos na economia real, gerados pelo aumento do emprego e da renda nos próximos meses, segundo especialistas

São Paulo – Os consumidores só devem se voltar para a recuperação de crédito em setembro de 2018, quando começarem a sentir os efeitos positivos no emprego e na economia real. Até lá, bancos e empresas de cobrança seguem flexíveis e abertos à renegociação de dívidas.

Os últimos dados do Banco Central apontam que as concessões de recursos para a composição de dívidas de modalidades distintas caíram 24,9% em agosto deste ano frente a igual período de 2016, de R$ 2,534 bilhões para R$ 1,901 bilhões.

Desde dezembro de 2015 (R$ 3,229 bilhões), no entanto, o recuo chegou a 41,1%.

O motivo, segundo o sócio da Itapeva, Renato Toledo, é a falta dos reflexos na economia real. “Estamos vivendo um cenário de expectativa positiva, de queda de juros acontecendo e de crédito começando a voltar, mas a economia real ainda não respondeu com tanta força para conseguir impactar as nossas curvas de recuperação”, comenta o executivo.

Informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por exemplo, indicam para uma taxa de desocupação ainda alta, de 12,6% no trimestre móvel encerrado em agosto, nível 0,8 pontos percentuais superiores ao observado em iguais três meses de 2016, quando estava em 11,8%.

Neste sentido, Toledo pondera que mesmo que as perspectivas para o ano que vem sejam positivas, o consumidor deve demorar de seis a nove meses para se voltar mais fortemente para a renegociação de crédito.

“As pessoas são muito menos influenciadas pelas expectativas futuras do que pela economia real. Mesmo com maior facilidade de pagamento, só vai aceitar o acordo quem tiver condições”, acrescenta o executivo.

Em relação à facilidade de pagamentos, por sua vez, a economista-chefe do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), Marcela Kawauti, reforça que ainda que “saindo do fundo do poço” a situação atual exigirá maior flexibilidade dos bancos e das empresas de recuperação de crédito.

“Ainda é um patamar de renda deprimida e desemprego alto. É preciso que os credores estejam abertos à situação, porque só assim há a chance de pagamento da dívida”, analisa a especialista, mas ressalta que, no entanto, o pé atrás por parte de bancos é “natural”.

“Essa cautela existe e continuará ao longo de 2018, principalmente porque o risco de inadimplência ainda é elevado. Mas olhando para o futuro, mesmo com inadimplência ainda alta agora, os bancos já começam a liberar o crédito de forma comedida porque enxergam um cenário positivo”, explica Kawauti.

Ainda de acordo com os dados do Banco Central, as concessões já demonstraram altas significativas em agosto, frente a igual mês de 2016, de R$ 267,6 bilhões para R$ 281 bilhões, volume 5% superior.

A inadimplência, por outro lado, manteve-se no patamar de 3,7% na mesma relação.

De acordo com o diretor de gestão de varejo da Recovery, Mauricio Teramoto, com o ambiente difícil, as empresas de recuperação de crédito também aumentaram a flexibilidade das negociações.

“Mesmo com o trabalho de ser mais flexível ao longo da crise, porém, conseguimos manter o fluxo de pagamentos como eram, mas não aumentamos. De qualquer forma, vemos um ambiente bastante positivo à frente, principalmente porque para cerca de um terço dos clientes, o foco é voltar a consumir”, aponta.

Os especialistas, porém, ponderam a necessidade de um processo de educação financeira do consumidor.

Em níveis de inadimplência, por exemplo, os calotes subiram 0,5 ponto percentual em agosto contra igual mês de 2016, de 17,6% para 18,1%.

“A impressão é que o movimento de renegociação se intensifique, mas é preciso que os consumidores não fiquem passivos quanto a sua condição. Dependendo da situação em que se encontra a dívida e do credor que a cobra, a redução pode chegar até 70% de desconto na negociação”, avisa o advogado Sebastião Rangel, sócio da S.F. Araújo Castro Rangel Advogados.

Pessoas jurídicas

Ao mesmo tempo, os especialistas consultados pelo DCI afirmam que o cenário para as pessoas jurídicas também tende a ficar mais positivo ao longo de 2018, conforme o ambiente de consumo melhore.

Segundo dados do BC, as concessões de crédito para empresas subiram 2,3% em agosto frente ao mesmo mês de 2016, de R$ 116,8 bilhões para R$ 119,5 bilhões.

Segundo o diretor de estratégia da Rocha, Calderon e Advogados Associados, Akira Sato, há bastante espaço para a renegociação de empresas.

“Os bancos estão bastante empenhados nesse cenário porque sabem que a recuperação pelo consumo tem um limite. Apesar de ainda conservadores, com o atual cenário, a renegociação de dívidas com empresas também deve alavancar em 2018”, conclui.

Entrevista concedida por Akira Sato, advogado do Rocha, Calderon e Advogados Associados, à Isabela Bolzani, do jornal DCI

Akira Sato foi um dos entrevistados em reeportagem publicada pelo DCI